Escrito por: Renan Matos
Cerca de duas mil mulheres trabalhadoras cearenses participam da 7ª edição, que marca os 50 anos do assassinato de Margarida Maria Alves.
A Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT-CE) participa da 7º edição da Marcha das Margaridas, que está sendo realizada desde ontem (15) em Brasília (DF). Organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) com o apoio de outras entidades sindicais, a Marcha apresenta como tema “Pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”, e conta com a participação de mais de 100 mil trabalhadoras rurais do campo, da cidade e da floresta. A programação envolve processos formativos e de debates, ações políticas, mobilização, denúncia e reivindicação, enraizadas em cada território e comunidade. Do Ceará, participam aproximadamente duas mil mulheres, distribuídas em 40 caravanas.
Para Wil Pereira, presidente da CUT Ceará, que participa da Marcha juntamente com outros dirigentes da Central, em Brasília, “a eleição de um novo governo possibilitou a reabertura do diálogo com a população". A nossa expectativa é que momentos como este, gere diálogos construtivos para o fortalecimento da democracia, e para a formulação e implementação de políticas públicas que contribuam para a redução das desigualdades”, ressaltou o presidente ao destacar a mobilização em torno da Marcha
Já de acordo com a secretária da mulher trabalhadora da CUT-CE, Claudinha Silva, “vivemos um momento muito intenso de desconstrução dos direitos e das políticas que nós tínhamos de segurança e proteção às mulheres, precisamos avançar, e as mulheres têm que participar dessa reconstrução”, enfatiza a secretária ao falar da ampla diversidade de mulheres que a Marcha das Margaridas abrange, e da necessidade de garantir a participação política das mulheres no combate a todas formas de violência e na conquista de direitos.
Em 2022, o Brasil teve pelo menos 32.448 denúncias de mulheres que foram vítimas de violência doméstica e familiar em zonas rurais, segundo dados das secretarias de segurança pública dos estados e Distrito Federal. Segundo a secretária de formação da CUT Ceará, Nadja Carneiro, “a Marcha reforça e fortalece as bandeiras de luta levantadas pelas mulheres, em defesa da reconstrução do país, e a reconstrução das perdas vivenciadas nos últimos anos”, ressalta a secretária ao falar do otimismo vivenciado pela população frente um governo aberto ao diálogo com as pautas das minorias, e da importância em sair às ruas para reforçar a pauta da classe trabalhadora.
Em todas as edições, a Marcha pautou seus eixos temáticos que orientam os processos formativos e debates políticos importantes para as vidas das Margaridas e de todo Brasil. “A CUT Ceará está reafirmando o compromisso com a classe trabalhadora, através de sua participação ao lado trabalhadores e trabalhadoras rurais que marcham em prol de uma sociedade mais justa e igualitária”, destaca a secretária de comunicação Silvana Pires, ao ressaltar a participação e a representação da Central na luta pela valorização das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade.
De acordo com a secretária de mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece), Cícera Costa, “a Marcha é um movimento necessário para visibilizar a luta das mulheres diversas, que estão além das capitais brasileiras, e as construções que têm que ser feitas para que as políticas públicas alcancem essas mulheres”, a para a dirigente a mobilização a Marcha das Margaridas é uma ação estratégica em busca de uma reconstrução social.
Eixos temáticos das Marcha 2023
Nesta sétima edição, a programação inclui oficinas, seminários e plenárias que envolvem 13 eixos de formação, são eles:
– Democracia participativa e soberania popular;
– Poder e participação política das mulheres;
– Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo;
– Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade;
– Proteção da natureza com justiça ambiental e climática;
– Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética;
– Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios;
– Direito de acesso e uso social da biodiversidade e defesa dos bens comuns;
– Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional;
– Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda;
– Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária;
– Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo;
– Universalização do acesso à internet e inclusão digital;
Por que Margaridas?
No último sábado, 12 agosto, Dia da Luta contra a Violência no Campo, uma data inspirada na vida e luta de Margarida Maria Alves, sindicalista paraibana da cidade de Alagoa Grande, completaram-se 50 anos de seu assassinato (1983), vítima do ataque de um matador de aluguel a mando de fazendeiros da região. Margarida foi a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade nos anos 1970. Fato que representou um marco no movimento sindical brasileiro e deu origem à Marcha das Margaridas, que tem como objetivo capacitar e mobilizar as mulheres trabalhadoras rurais em todos os estados brasileiros, além de proporcionar uma reflexão sobre as condições de vida das mulheres do campo, cidade e da floresta, na luta por uma sociedade mais justa, igualitária e livre de violência.
Conheça as principais conquistas históricas da Marcha das Margarida:
- Documentação, acesso a terra, apoio às mulheres assentadas e políticas de apoio a produção na agricultura familiar;
- Criação do Programa Nacional de Documentação da Mulher Trabalhadora Rural (PNDTR)
- Titulação Conjunta Obrigatória - Edição da Portaria 981 de 02 de outubro de 2003;
- Revisão dos critérios de seleção de famílias cadastradas para facilitar o acesso das mulheres a terra;
- Edição da IN 38 de 13 de março de 2007 - normas para efetivar o direito das trabalhadoras rurais ao Programa Nacional de Reforma Agrária, dentre elas a prioridade às mulheres chefes de família;
- Capacitação de servidores do INCRA sobre legislação e instrumentos para o acesso das mulheres a terra;
- Formação do Grupo de Trabalho (GT) sobre Gênero e Crédito e a Criação do Pronaf Mulher;
- Criação do crédito instalação para mulheres assentadas;
- Ações de Capacitação sobre Pronaf - Ciranda do Pronaf e Capacitação em Políticas Públicas;
- Inclusão da abordagem de gênero na Política Nacional de Ater e da ATER para Mulheres;
- Apoio ao protagonismo das mulheres trabalhadoras nos territórios rurais;
- Criação do Programa de Apoio à Organização Produtiva das Mulheres;
- Campanha Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres do Campo e da Floresta;
- Criação e funcionamento do Fórum Nacional de Elaboração de Políticas para o Enfrentamento à - Violência contra as Mulheres do Campo e da Floresta;
- Elaboração e inserção de diretrizes na Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as mulheres voltadas para o atendimento das mulheres rurais;