Escrito por: Letícia Alves/CUT-CE
Trabalhadores do Acampamento Zé Maria do Tomé estão sob ameaça de expropriação
A CUT-CE e o movimento sindical apoiam a luta legítima dos Trabalhadores Rurais Sem Terra pela Reforma Agrária e a organização dos camponeses em suas diversas ocupações de terra, considerando que essa é uma luta da classe trabalhadora. Desde o dia 5 de maio de 2014 (há exatos três anos), centenas de família ligadas ao MST-CE e às 36 comunidades de Limoeiro do Norte, Tabuleiro do Norte e Quixeré, ocuparam a 2ª etapa do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi. Os trabalhadores reivindicam que a área ocupada seja destinada aos familiares de agricultores sem terra, e não ao agronegócio que envenena, explora e destrói a natureza de qualquer região em que é instaurado.
Nos anos 80, o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) instalou o Perímetro Irrigado Juaguaribe-Apodi e, com isso, a expropriação da maioria dos agricultores familiares e camponeses que viviam no local, produziam alimentos e possuíam uma relação de identidade com o território. Tais perímetros tem a promessa de modernizar e desenvolver a região, mas na verdade são estruturas planejadas para o agronegócio e sua exploração. Na época, dos 316 agricultores que viviam no local e que conseguiram entrar no projeto do perímetro irrigado, apenas 61 conseguiram continuar, o que totaliza 81% de trabalhadores expropriados, segundo estudos da Universidade Estadual do Ceará/FAFIDAM.
Em 2009, a Justiça Federal determinou que o DNOCS realizasse um estudo sobre a situação do local em relação a apropriação ilegal da terra por parte das empresas. A conclusão do estudo do DNOCS é que, dos 10.000 hectares do Perímetro Irrigado do Jaguaribe-Apodi, 4.000 foram invadidos e grilados, com destaque para empresas transnacionais e nacionais, tais como: Del Monte – 1223,27ha, Banesa – 356,74ha, Frutacor – 284,29. Desde então, mesmo tendo ciência do caso, o DNOCS nunca impetrou qualquer ação de reintegração de posse que determinasse a saída das empresas das áreas públicas. O mesmo não acontece contra as famílias dos agricultores e camponeses.
Em 2010, o líder comunitário José Maria do Tomé foi cruelmente assassinado por lutar pelo direito à terra, água, e alimentos livres de veneno. Por esse motivo, o acampamento leva o nome do líder e, ainda hoje, sofre com ameaças de expulsão das centenas de família que usam a terra para o próprio sustento, e que conseguiram, através de Grupos de Trabalho, negociar e garantir o seu direito às terras da segunda etapa do perímetro.
Em nota assinada pela CUT-CE, FBP-CE e por outras dezenas de movimentos e organizações sociais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e comunidades da Chapada exigem a suspensão da reintegração de posse, bem como o imediato assentamento irrigado das famílias do acampamento. Denuncia, também, a perseguição que a Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi – FAPIJA tem feito contra as famílias do acampamento, e ressalta que o DNOCS deve respeitar as conquistas, cumprir acordos realizados e retomar o Grupo de Trabalho – GT que trata das questões da regularização do Assentamento Irrigado.