Escrito por: Renan Matos

CUT Ceará debate em seminário a luta antirracista e o empoderamento de um povo

Promovido pela secretaria de combate ao racismo, o encontro reuniu lideranças sindicais e de movimentos sociais no auditório da Central, em Fortaleza.

CUT-CE

A Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT-CE) realizou na manhã desta terça-feira (28/11) o seminário "A Luta Antirracista e o Empoderamento de um Povo". O evento, realizado em homenagem ao mês da Consciência Negra, celebrado no último dia 20 de novembro, reuniu representantes de movimentos sociais e de entidades filiadas no auditório da Central, em Fortaleza. 

A atividade recebeu o secretário de combate ao racismo da Fetamce, Régis Pires, o secretário de meio ambiente da CUT-CE, Claudemir Brito, e Geyse Anne, coordenadora de mulheres do Movimento Negro Unificado no Ceará. Os convidados debateram sobre os desafios da luta antirracista no Ceará e no Brasil, com um olhar para a classe trabalhadora e para os desafios ocasionados pela invisibilidade e pelo racismo ambiental. A discussão foi mediada pela secretária de combate ao racismo da CUT, Edivania Costa.

Ao abrir o encontro, a secretária destacou a importância do fortalecimento da luta antirracista, sobretudo no movimento sindical. “O racismo infelizmente está presente em todos os espaços, e é necessário dar amplitude à discussão, pois precisamos combatê-lo através da conscientização das categorias sobre os crimes de racismo praticados contra a população negra”, finaliza Edivânia.

Regis Pires, secretário de combate ao racismo da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce), foi o primeiro expositor, e falou sobre o racismo estrutural, presente na estrutura social brasileira.

“Promover a reflexão sobre o racismo estrutural, é levar em consideração como ele se manifesta nas políticas públicas, no sistema de justiça, na educação e no mercado de trabalho”, pontua o secretário ao falar do esquecimento e invisibilização acerca da história da população negra no país. Ainda segundo Regis, “o racismo é notado ainda na falta de representatividade da população negra no serviço público”. 

A população brasileira é formada por 56% de pessoas negras segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, no serviço público federal, pretos e pardos ocupam somente 15% dos cargos de tomada de decisão. O levantamento também apontou que uma mulher negra ganha um salário 33% menor que um homem branco, ocupando a mesma função.

Juventude

A coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) no Ceará, Geyse Anne, trouxe uma reflexão sobre a participação e o protagonismo dos jovens trabalhadores no combate ao racismo dentro e fora dos espaços sindicais.

“O incentivo do ativismo sindical dos trabalhadores e trabalhadoras jovens é um dos principais desafios das entidades sindicais, no processo de conscientização da juventude contra o racismo, como passo para a superação desse desafio”, ressaltou Geyse.

Racismo ambiental

Atualmente, mais de 102 milhões de brasileiros vivem diariamente com algum tipo de privação de saneamento no Brasil. Deste total, 66% são pessoas negras, que não têm acesso a serviços considerados básicos, como abastecimento de água, coleta de esgoto ou, simplesmente, um banheiro. Os dados são do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE. Esses números refletem uma forma de racismo, que é chamada de racismo estrutural, tema da última mesa temática do encontro, e que contou com a participação do secretário de meio ambiente da CUT Ceará, Claudemir Brito. 

Para o dirigente, “a ausência de políticas públicas implementadas com equidade, a fim de promover uma reparação à população negra juntamente com as questões ambientais, gera um ciclo alimentado pelo capitalismo, e que aumenta ainda mais a desigualdade social”, ressalta o dirigente ao destacar que a ausência de políticas públicas que promovam a igualdade e a justiça social, aprofunda ainda mais o abismo social entre brancos e negros, ricos e pobres.

Já a Kátia Rogéria, ex-secretária de combate ao racismo da CUT-CE e atual diretora estadual, destaca que o capitalismo é o principal causador das desigualdades sociais, e principal fiador do racismo estrutural 

“Para entendermos como o racismo se comporta, é necessário também compreendermos a exclusão social causada por ele, que gera opressão e aprisionamento da população negra a um estereótipo social”, afirma a dirigente ao fazer uma retrospectiva histórica da população negra no Brasil. “O povo preto não foi vítima apenas da escravidão, mas também foi vítima do esquecimento, através da precarização de direitos, que dificultam e impedem o acesso a trabalho, estudo e renda”, disse Kátia.

Projeto Pílulas de Racismo

Com o objetivo de ampliar a reflexão sobre como o racismo se estrutura e se perpetua no cotidiano das pessoas desde os tempos da escravidão até os dias de hoje, a CUT, por meio de sua secretaria nacional de Combate ao Racismo produziu um vasto material de conteúdo obrigatório para a luta antirracista em nossa sociedade.

O projeto é um instrumento de informação à classe trabalhadora, fala dos levantes populares, como a Revolta dos Malês e a Balaiada, no Maranhão, que tiveram participação efetiva de negros e negras escravizados. A campanha também mostra alguns termos racistas que muita gente usa no cotidiano, no entanto, que devemos tirar do vocabulário, como: mulato, denegrir, serviço de preto, traços finos.

Os vídeos também abordam questões como o encarceramento em massa, o cabelo como estética e símbolo de resistência e como a juventude hoje se apropria dessa estética - do cabelo crespo - como uma forma de se colocar na sociedade.

Ao todo 30 pílulas e três documentários, disponíveis no Youtube da CUT sobre diversos temas que abordam a questão racial, material que pode e deve ser compartilhado, não somente em novembro, o mês da Consciência Negra, mas diariamente, o ano todo. Para a CUT, a luta antirracismo é constante.

As pílulas antirracismo da CUT foram lançadas em julho de 2021, por ocasião do Julho das Pretas, que faz referência ao dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Afro-Latino Americana e Afro-Caribenha. No Brasil, a data é dedicada à memória de Tereza de Benguela, líder do quilombo do Quariterê, em área que hoje pertence ao Estado do Mato Grosso. Tereza é símbolo da resistência contra a escravidão, mas sua luta só foi reconhecida em 2014, pela então presidenta Dilma Rousseff (PT).

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Com informações da CUT Brasil