Escrito por: Redação CUT
O encontro reuniu representantes de movimentos sociais e de entidades filiadas no auditório da Central, em Fortaleza.
A Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT-CE) realizou na manhã desta quarta-feira (31/7) o seminário "luta contra o PL 1904/24 e a resistência das mulheres negras". O evento, realizado pelas secretarias de combate ao racismo e da mulher trabalhadora em homenagem ao julho das pretas, mês que é celebrado a luta antirracista e as conquistas das mulheres negras, reuniu representantes de movimentos sociais e de entidades filiadas no auditório da Central, em Fortaleza.
A atividade recebeu a representante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro Unificado (MNU), Mariana Lacerda e a ex-secretária de combate ao racismo da CUT-CE e atual diretora estadual, Kátia Rogéria, para debaterem sobre os desafios da luta antirracista no Ceará e no Brasil com um olhar para as mulheres trabalhadoras. A discussão foi mediada pelas secretárias de combate ao racismo e da mulher trabalhadora, respectivamente Edivânia Costa e Claudinha Silva.
“As conquistas que nós, mulheres negras, tivemos até hoje só foram possíveis através de muita luta e resistência. É por isso que é muito importante essa iniciativa da CUT, para que a gente mantenha firme e forte a luta contra o preconceito e o combate diário contra o machismo e o racismo estrutural, sobretudo nos mais diversos espaços em que atuamos”, concluiu Mariana Lacerda.
Kátia Rogéria destacou que o capitalismo é o principal causador das desigualdades sociais e principal fiador do racismo estrutural relatado na fala de Mariana Lacerda.
“Para entendermos como o racismo se comporta, é necessário também compreendermos a exclusão social causada por ele, que gera opressão e aprisionamento da população negra, sobretudo das mulheres negras, a um estereótipo social”, afirma a sindicalista ao fazer uma retrospectiva histórica da população negra no Ceará e no Brasil. “A população negra não foi vítima apenas da escravidão, também foi vítima do esquecimento, por meio da precarização de direitos, que dificultam e impedem o acesso a trabalho, estudo e renda”, disse Kátia ao destacar as desigualdades no mundo do trabalho, que afetam principalmente as mulheres e negros.
Ao abrir o encontro, a presidente interina da CUT Ceará, Lúcia Silveira, destacou a importância da participação de toda a sociedade na luta pelos direitos das mulheres e da população negra.
“A nossa sociedade sempre privilegiou a participação masculina e de pessoas brancas nos espaços de poder. Isso é fruto do racismo estrutural e da desigualdade de gênero que ainda é muito forte, sobretudo no movimento sindical. Portanto, precisamos mobilizar todos e todas para que se juntem a nós nesta luta, que é importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos e todas”, disse a presidente da CUT-CE.
Em concordância com Lúcia Silveira, a secretária da mulher trabalhadora da CUT Ceará, Claudinha Silva, afirmou que “o racismo e o machismo, infelizmente, estão presentes em todos os espaços e atingem, principalmente, as mulheres negras. É necessário dar amplitude à discussão, pois precisamos combatê-los partindo de espaços de discussão como este, conscientizando nossas bases, nossos dirigentes, companheiros e companheiras sobre os crimes de racismo praticados contra as mulheres negras”, finaliza Claudinha.
Já a secretária de combate ao racismo da CUT-CE, Edivânia Costa, lembrou que o julho das pretas celebra a luta antirracista e o papel importante das mulheres contra a discriminação racial. “Finalizamos o julho das pretas com muita luta e resistência, reforçando o papel que as mulheres negras desempenham frente aos desafios enfrentados por todas nós ao longo da história. A nossa luta é para empoderar as mulheres negras, para que o racismo seja combatido no trabalho e na vida”, frisou a dirigente sindical.
Desigualdade no mercado de trabalho
De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), divulgado em julho de 2023, a remuneração média das mulheres negras era de R$ 1.948, o que equivale a 48% do que homens brancos ganham na média, 62% do que as mulheres brancas recebem e 80% do que os homens negros ganham.
Essa desigualdade permanece apesar do aumento do contingente de mulheres negras na população em idade ativa e da ampliação da escolaridade. Segundo o levantamento, entre o primeiro trimestre de 2012 e o de 2023, a população em idade para trabalhar cresceu 13,4% no Brasil; entre mulheres negras, essa expansão foi de 24,5%, próximo do registrado para homens negros (22,3%), e muito acima do percentual entre homens brancos (2,8%) e mulheres brancas (1,9%).
De acordo com a pesquisa, a participação das mulheres negras que chegaram ao ensino superior e concluíram o curso dobrou, de 6% em 2012 para 12% em 2023. Esse avanço, entretanto, não foi suficiente para melhorar outros indicadores deste grupo no mercado de trabalho.
Com informações da CUT Brasil