Ministro conselheiro da embaixada de Cuba no Brasil conclama união das esquerdas
Durante a atividade promovida pela Casa de Amizade Brasil Cuba, com apoio da CUT-CE, CTB e Central dos Movimentos Populares, ele defendeu a libertação dos cinco cubanos que estão presos nos EUA. Confira entrevista.
Publicado: 22 Março, 2010 - 00h00
Escrito por: CUT CE
A Casa de Amizade Brasil Cuba realizou, no ltimo dia 16, palestra com o ministro conselheiro da Embaixada de Cuba no Brasil, Srgio Martinez, no Sindicato dos Bancrios do Cear. A atividade, que teve apoio da CUT-CE, da CTB e da Central dos Movimentos Populares, defendeu a libertao dos cinco cubanos que esto presos nos EUA.Logo em seguida palestra, Srgio Martinez concedeu entrevista exclusiva Tribuna Bancria. O representante de Cuba destaca os indicadores sociais daquele pas, o papel destacado na exportao de servios e tecnologia para diversos pases e a campanha difamatria que Cuba vem sofrendo por parte da grande mdia. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Martinez. O texto na ntegra estar disponvel no endereo: www.bancariosce.org.br Tribuna Bancria Qual a atualidade da Revoluo Cubana, que este ano completou 51 anos? Srgio Martinez Hoje em dia, o mais importante da Revoluo Cubana que ela mais atual do que nunca. O povo cubano celebrou os 51 anos como um avano importante. O desenvolvimento social de nosso pas. Pela primeira vez a taxa de mortalidade em Cuba baixou de 5%, um nmero praticamente indito, alcanado por poucos pases no mundo. A Revoluo Cubana celebrou seu 51 aniversrio com um incremento na expectativa de vida da populao. Hoje, a expectativa de vida mdia em Cuba so 70 anos para os homens e 75 para as mulheres se voc fala do ndice mdio dessa expectativa de vida em alguns pases, inclusive alguns que so considerados desenvolvidos, no passa de 65 anos. Isso demonstra algo importante, avanos em nossos ndices sociais que vem alcanando a Revoluo Cubana, independente de todas as dificuldades que ainda temos, independente da parte econmica, com todos os embargos que ainda enfrentamos contra o nosso pequeno pas. Hoje, em Cuba, a educao de alto nvel, com desenvolvimento de um novo programa social em mbito da habitao, sade e bem-estar social, cuidados com os idosos. Nossa Revoluo chega ao 51 aniversrio mantendo um povo unido, um povo que defende sua Revoluo independente de qualquer mudana que voc tenha dentro de si, mas o princpio da Revoluo se mantm intacto e isso no s assegura a Revoluo, mas ela fica mais segura para 51 anos mais. Tribuna Bancria Ns temos conhecimento aqui no Brasil de que Cuba tem ndices sociais fantsticos. Mas e os ndices econmicos, como so? Srgio Martinez Realmente, os efeitos de um grupo econmico como os Estados Unidos, que barrou o comrcio com Cuba, foi algo fundamental. Todo mundo compra e vende para os Estados Unidos. E eles ameaam, sancionam todos os pases para que no negociem conosco. S para dar um exemplo, estamos proibidos de utilizar o dlar como moeda em nossas transaes internacionais. S na troca de moeda, ns temos que adicionar cerca de 5% a mais no preo que cobramos em nossos produtos. Muitas empresas quando vendem a Cuba, normalmente um produto que voc encontra num preo x no mercado internacional, vendem para ns por cerca de 15% a mais do que a outros mercados. Esse um preo que essas empresas cobram por vender a Cuba, porque sabem que podem ser sancionadas. E no estamos falando de empresas americanas, mas de empresas holandesas, francesas, alems... ento isso o que significa o bloqueio para ns. Isso faz com que nossa situao financeira no seja completa. Tribuna Bancria Isso se aplica at nas exportaes? E o que Cuba mais exporta hoje? Srgio Martinez Hoje, Cuba fundamentalmente exporta o setor de servios e agora, a partir do desenvolvimento cientfico de nosso pas, a nossa tecnologia. Por exemplo, para o Brasil ns exportamos um grupo de produtos para o tratamento de diferentes tipos de cncer. Exportamos vacinas, determinados produtos para tratamento de hepatite, malria etc. Aqui no Brasil, temos ainda uma parceria: ns damos nossa tecnologia e o Brasil fabrica e exporta vacinas aos pases africanos atravs de um convnio com a Organizao Mundial da Sade. Ento, independente das dificuldades, isso no impede que o pas alcance um nvel de crescimento modesto, 1%, 2%, a partir das condies que temos. Ns agora estamos num processo importante de incentivar a produo de alimentos em Cuba e tambm estamos tendo apoio do Brasil para o desenvolvimento da produo de soja, por exemplo, atravs da Embrapa. Estamos entregando terras, como uma nova revoluo dentro da Revoluo, para dar algumas formas de incrementar a produo agrcola. Ns importamos quase 70% dos alimentos que o pas consome. E com essas importaes, sustentamos todos os hospitais, centros de trabalho. Em Cuba, em nosso sistema de educao, todos os alunos almoam na escola de graa, no pagam um centavo, e muitos ainda tm a merenda. No Centro de Trabalho se paga 0,50 centavos de peso cubano por uma refeio completa. Os trabalhadores tm um almoo todo dia por menos de 0,01 centavo/dlar. Tribuna Bancria O que tem chamado muita ateno em Cuba a questo da educao. No Brasil, temos muito respeito pelos mdicos de Cuba. Queria que voc comentasse qual o impacto poltico dessa preocupao com a educao, j que apesar de sofrer todo o tipo de bloqueio, Cuba tem projeto para exportar, como o projeto de alfabetizao e dos mdicos de Cuba. Voc pode nos falar um pouco sobre o projeto Sim, eu posso? Srgio Martinez A educao a base fundamental para a sociedade. Sem educao no se consegue desenvolvimento. Uma das primeiras medidas da Revoluo Cubana foi o desenvolvimento da campanha da alfabetizao. Depois, fomos a um segundo estgio: que toda a populao tivesse pelo menos a educao primria. Depois fomos a outro passo para que todos tivessem pelo menos a educao secundria, e agora nossa proposta que consigamos o maior nmero possvel de pessoas com educao superior. O que fizemos? Levamos o centro universitrio at onde vivem as pessoas que por algum motivo no seguiram estundando. As escolas primrias, noite, se convertem em universidade. Ns estamos desenvolvendo um programa para a pessoa que abandonou os estudos por determinadas razes e incentivamos para que essa pessoa estude e chegue at a universidade. Pessoas que esto na priso tambm tm incentivo para voltar a estudar e quem se destaca tem uma reduo na pena e sai da penitenciria muito mais preparado para se reintegrar sociedade. Um ponto que nos destaca a informtica. H uns seis anos temos uma universidade para o ensino de informtica que todos os anos gradua dez mil estudantes. Agora o projeto Sim, eu posso um projeto que j tem vrios anos, e foi desenvolvido em Cuba para alfabetizao. Comeou na Nicargua, nos anos 80, final dos anos 70, mas no com esse nome. Depois esse projetou se estendeu a alguns pases da Amrica Central, Caribe, Amrica do Sul; o curso, hoje existe em mais de dez idiomas e reconhecido pela Unesco. O mtodo est sendo desenvolvido no Haiti milhares de haitianos esto sendo alfabetizados atravs desse mtodo e nosso governo cubano facilitou uma equipe tcnica que est fazendo o possvel para que o projeto possa chegar ao maior nmero de pessoas. Aqui no Brasil, comeou com experincias com o governo, se estendendo aos estados, atravs de parcerias com movimentos sociais, com governos municipais. Assinamos at um convnio entre o Ministrio da Educao de Cuba e a Secretaria de Pesca para se aplicar o mtodo em colnias de pescadores. uma pequena contribuio que nosso pas d. Tribuna Bancria Por ltimo, voc poderia esclarecer o que est acontecendo em Cuba com relao aos presos polticos? Ns, aqui no Brasil, s temos acesso viso da grande mdia, ento seria interessante se voc, de Cuba, pudesse dizer como est a situao. Srgio Martinez No primeiro caso, (militante Orlando Zapata Tamayo, morto aps 86 dias de greve de fome, dia 23/2) foi uma distoro. Bem, o segundo (o socilogo e jornalista Guillermo Farias) no est preso, est livre, em casa, e no a primeira vez que decidiu usar esse mtodo (greve de fome) para fazer determinada presso por coisas que ele pleiteia. Essa uma campanha que no s contra Cuba. Trata-se de uma campanha dos grandes centros, do Imprio, contra todas as foras progressistas e de esquerda atuais. Quando voc abre os grandes jornais, no s na mdia aqui no Brasil, mas em outros pases nos EUA e na Europa v que a campanha no s dirigida contra Cuba, mas contra a Venezuela, a Bolvia, o Equador, contra os movimentos sociais aqui no Brasil, contra tudo que v contra os ricos e os que tm mais privilgios no nosso mundo. Por que importante lutar contra isso? Porque uma campanha contra tudo que ns defendemos e por isso importante a unidade. A direita sempre est unida. Se voc pega O Estado de So Paulo, Folha, Globo, Veja, voc no v nenhuma diferena. Hoje h um movimento dos pases latino-americanos, do terceiro mundo, favorvel integrao, a dizer um furioso Chega!. nosso momento agora caminhar juntos. Agora vai acontecer uma 2 Cpula dos Pases da Amrica Latina e do Caribe, a criao de uma organizao dos nossos pases, defendendo outra ordem econmica internacional. E Cuba faz parte desse movimento. No caso de Cuba, se tem utilizado esse incidente (a morte de Zapata), que lamentvel qualquer perda de vidas humanas lamentvel. Falaram que esta pessoa era um prisioneiro poltico. Tudo isto uma falsa manipulao da realidade! Essa pessoa estava detida e foi processada por cometer delitos criminais. Hoje em dia esto presas poucas pessoas em Cuba, mas essas pessoas no esto presas por falarem o que pensam ou por terem uma opinio contrria grande maioria de nosso povo e ao governo, e sim por atuar contra os interesses de nosso povo. Esto presas por servirem aos interesses de uma potncia (EUA) que, emprega 100 milhes de dlares anuais contra Cuba. Essa a realidade que enfrentamos hoje, ns somos um pas que tem que enfrentar todas as foras (imperialistas) e fazemos de tudo para procurar derrot-las.(Da assessoria de Comunicao do Sindicato dos Bancrios)