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Número de assalariados cai, aumenta o total de empresas sem empregados, diz IBGE

Pesquisa mostra que, para sobreviver, mais pessoas abriram empresas. Resultado: número de assalariados e massa salarial caíram em 2020

Publicado: 23 Junho, 2022 - 12h27 | Última modificação: 23 Junho, 2022 - 14h10

Escrito por: Comunicação CUT-CE | Editado por: Samira de Castro

Foto: Freepik
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As mulheres perderam mais postos de trabalho que os homens

Em 2020, as empresas e outras organizações ativas do país tinham cerca de 45,4 milhões de pessoas ocupadas assalariadas - 1,8% a menos do que em 2019. Em número absoluto, representa 825,3 mil postos de trabalho a menos. Foi a maior retração nesse contingente desde 2016 (-4,4%). Os dados são do Cadastro Central de Empresas (Cempre), divulgado hoje (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

“Esse ano da pandemia foi muito desafiador sob vários aspectos que impactaram a economia empresarial. Um deles foi a necessidade de lockdown, que causou a diminuição no deslocamento das pessoas e fez com que muitas empresas fechassem as portas naquele período. E, se a empresa não vende produtos, não gera receita e acaba por demitir os funcionários. É uma bola de neve”, explica o gerente da pesquisa, Thiego Ferreira.

A retração na população assalariada atingiu a maioria das atividades econômicas analisadas. A maior perda em termos relativos foi em Alojamento e alimentação, com queda de 19,4%, a maior da série histórica do levantamento, iniciado em 2007.  A atividade econômica Artes, cultura, esporte e recreação também teve uma retração de dois dígitos: em um ano, perdeu 16,4% de seu pessoal ocupado assalariado. O recuo também foi recorde na série histórica. Entre as empresas desse grupo estão, por exemplo, cinemas, teatros e casas de organização de festas, que foram bastante impactados pelos efeitos da pandemia.

As atividades que mais contribuíram para a redução de 825,3 mil assalariados foram Alojamento e alimentação (-373,2 mil), Administração pública, defesa e seguridade social (-233,9 mil) e Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (-221,7 mil).

 Também impactadas pelas políticas de distanciamento social para combate à pandemia, as atividades de Transporte, armazenagem e correio sofreram uma redução de 4,0% no número de assalariados.  “Esse setor se divide em três partes importantes que sentiram os efeitos da crise de forma diferente. O transporte de passageiros, especialmente o aéreo, foi muito afetado pelos efeitos do distanciamento social por causa da pandemia”, afirma Thiego.

“Ao mesmo tempo, em Correios e outras atividades de entrega, houve aumento de 1,5% no número de assalariados. Essas atividades tiveram um papel importante em 2020, quando ocorreram recordes de vendas do e-commerce”, justifica.

Outro segmento impulsionado pela demanda durante o primeiro ano da pandemia foi Saúde humana e serviços sociais, que ganhou mais 139,3 mil assalariados. Foi o maior crescimento de ocupação em termos absolutos entre as atividades investigadas. Outras atividades com alta nesse indicador foram Construção (80,8 mil) e Atividades administrativas e serviços complementares (79,6 mil).

“Esse crescimento do setor de saúde é explicado pela própria necessidade de contratação de pessoas nesse período. Hospitais de campanha foram abertos e a capacidade das unidades de atendimentos existentes foi expandida, resultando na contratação de profissionais para atender à demanda”, analisa o gerente da pesquisa.

 

Mulheres foram mais afetadas pela queda na ocupação

Em 2020, as mulheres perderam mais postos de trabalho que os homens. Enquanto o número de homens ocupados assalariados caiu 0,9%, o de mulheres caiu 2,9%. Do total de 825,3 mil postos de trabalho perdidos entre 2019 e 2020, cerca de 593,6 mil (ou 71,9%) eram ocupados por mulheres. Com isso, pela primeira vez desde 2009, houve queda na participação feminina no pessoal ocupado assalariado, de 44,8% em 2019 para 44,3% em 2020, o menor nível desde 2016.

De acordo com o gerente da pesquisa, os setores da economia que historicamente empregam mais homens tiveram aumento de pessoal em 2020, enquanto aqueles que ocupam mais mulheres se retraíram. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Educação, composto majoritariamente por mulheres (66,9% do total), que perdeu 1,6% do seu pessoal assalariado. Já na construção, setor em que 90,6% dos ocupados são homens, houve aumento de 4,3% no número de assalariados.

O comércio, setor que concentra 19,0% das mulheres assalariadas, teve queda de 2,5% no total de pessoal ocupado assalariado. Mas, entre as mulheres assalariadas deste segmento, a queda foi maior: 3,2% contra 1,9% dos homens.

Aumento do número de empresas pode estar ligado à perda de emprego

Enquanto o número de assalariados recuou, o número de sócios e proprietários nas empresas do país cresceu 4,3% ante 2019 e chegou a 7,3 milhões em 2020, o equivalente a 301,8 mil pessoas a mais. De acordo com Thiego, esse aumento pode estar relacionado às demissões ou diminuição da renda durante a pandemia. “Diante do desemprego, muitas pessoas resolveram abrir o próprio negócio. É o caso de pessoas que trabalhavam em restaurante, foram demitidas e começaram a vender comida em casa. Se a empresa que foi aberta tem CNPJ, declara o eSocial e não for MEI, ela entra nessa conta”, diz o pesquisador.

Acompanhando o crescimento no contingente de donos do próprio negócio, o número de empresas e outras organizações ativas aumentou 3,7% ante 2019 e chegou a 5,4 milhões em 2020. Isso equivale a um acréscimo de 194,8 mil empresas, no ano.

De acordo com o gerente da pesquisa, esse aumento foi puxado por aquelas empresas que não têm funcionários. O número delas cresceu 8,4% em 2020. Todos os demais portes de firma caíram: as microempresas que empregam de uma a nove pessoas assalariadas caíram 0,4%; as pequenas empresas que têm de 10 a 49 empregados, 5,3%; as médias empresas (50 a 250 pessoas), 2,3%; e as grandes empresas (mais de 250 pessoas), 1,0%.

Massa salarial cai 6,0% em 2020; recuo de salário médio é de 3,0%

A soma de salários e outras remunerações pagas por empresas e organizações totalizou R$ 1,8 trilhão em 2020, uma retração de 6,0% frente ao ano anterior, já corrigido pela inflação. É a maior queda da massa salarial desde o início da série histórica da pesquisa. Antes, o maior recuo havia sido registrado em 2015 (-4,8%). Em relação ao salário médio mensal, a queda foi de 3,0%. Com o resultado, a média salarial foi de R$ 3.043,81, o que equivale a 2,9 salários mínimos.

“Esse decréscimo, que foi generalizado entre as atividades, pode ser explicado por diversos fatores. A inflação cresceu nos três anos anteriores e não retrocedeu em 2020, ao mesmo tempo que o salário do trabalhador não sofreu esse reajuste. Isso já provocaria uma redução no salário em termos reais. Houve também a forte retração da atividade econômica e uma taxa de desocupação no maior patamar de toda a série histórica”, explica Thiego.

Os maiores salários foram pagos no Distrito Federal, com média de 5,3 salários mínimos, e no Amapá, com 3,7 s.m. Essas duas Unidades da Federação foram seguidas por Rio de Janeiro e São Paulo, que concentram um terço de toda a população assalariada do país. Nos dois estados, a média salarial foi de 3,3 salários mínimos. Já as médias mais baixas foram observadas na Paraíba (2,1 s.m.), no Ceará (2,2 s.m.) e em Alagoas (2,2 s.m.).

Sudeste concentra mais da metade das unidades locais do país

A pesquisa também verificou a manutenção da alta concentração de unidades locais, pessoal ocupado total e assalariado, salários e remunerações no Sudeste. Em 2020, essa região respondeu pela maioria (50,6%) das unidades locais e quase metade (49,3%) das pessoas ocupadas do país. Foram 22,2 milhões de assalariados, representando 48,9% do total do país, e R$938,5 bilhões gastos em salários e outras remunerações (52,0%).

O Sul foi a segunda com maior participação no número de unidades locais (22,4%), pessoal ocupado total (18,5%) e salários e outras remunerações (16,8%), mas, em número de assalariados, ficou atrás do Nordeste, que respondeu por 18,6% do total. Entre os Estados, São Paulo segue com maior participação em número de unidades locais (30,9%), pessoal ocupado (28,8%), assalariados (28,5%) e salários e outras remunerações (32,1%).

Em relação a 2019, houve aumento no número de unidades locais e queda do total de salários e outras remunerações em todas as grandes regiões. O crescimento foi mais expressivo no Norte, onde o número de unidades locais aumentou 6,9% e no Centro-Oeste (5,8%). O Norte também foi a única região a registrar crescimento em relação ao pessoal ocupado assalariado (0,8%). A maior queda nesse contingente foi do Sudeste (-2,4%), com destaque para São Paulo, que perdeu 262,7 mil assalariados, e Rio de Janeiro, com perda de 238,7 mil.