Salário mínimo de 2022 só compra duas cestas básicas em Fortaleza
Presidente da CUT Ceará lembra que trabalhadores têm diversos gastos para sustentar suas famílias e novo piso deveria ter ganho real
Publicado: 04 Janeiro, 2022 - 17h43 | Última modificação: 04 Janeiro, 2022 - 21h01
Escrito por: Samira de Castro | Editado por: Samira de Castro
O novo valor do salário mínimo, de R$ 1.212,00, em vigor desde 1° de janeiro desse ano, só dá para comprar duas cestas básicas em Fortaleza. É o que mostra a comparação, feita pela CUT Ceará, entre o piso nacional vigente e o custo da cesta de alimentos calculado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para a Capital cearense, que chegou a R$ 580,39 em novembro último.
A cesta básica, composta por 13 itens, tem valores que variam entre as regiões do país e, por isso, representa uma parcela diferente do salário mínimo em cada uma delas. Na maioria das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese, no entanto, o custo da cesta básica representa mais da metade do salário mínimo.
O custo médio da cesta básica de alimentos aumentou em nove cidades, de acordo com o último levantamento do Dieese. As maiores altas foram registradas nas cidades do Norte e do Nordeste: Recife (8,13%), Salvador (3,76%), João Pessoa (3,62%), Natal (3,25%), Fortaleza (2,91%), Belém (2,27%) e Aracaju (1,96%). Florianópolis (1,40%) e Goiânia (1,33%) também apresentaram elevação no custo médio.
A cesta mais cara foi a de Florianópolis (R$ 710,53), seguida pelas de São Paulo (R$ 692,27), Porto Alegre (R$ 685,32), Vitória (R$ 668,17) e Rio de Janeiro (R$ 665,60). Entre as capitais do Norte e Nordeste, onde a composição da cesta tem algumas diferenças em relação às demais cidades, Aracaju (R$ 473,26), Salvador (R$ 505,94) e João Pessoa (R$ 508,91) registraram os menores custos.
O aumento de R$ 112 no salário mínimo de 2021 (R$ 1.100) não representa aumento real, mas apenas a recomposição de perdas inflacionárias. Para esse cálculo, é usada a taxa de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) - que abrange as famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos e tem por objetivo a correção do poder de compra dos salários.
“Mas o trabalhador e a trabalhadora não têm apenas a conta do supermercado para pagar”, lembra o presidente da CUT-CE, Wil Pereira. “As famílias têm gastos com alimentação, moradia, transporte, saúde, educação e lazer, entre outros”, pontua. Nesse sentido, o novo valor do salário mínimo nacional ainda está longe de suprir as necessidades mais básicas dos trabalhadores e de suas famílias.
Segundo o Dieese, o piso mínimo nacional deveria ser equivalente a R$ 5.969,17, em novembro último, para que o trabalhador e a trabalhadora pudessem ter o básico para suprir sua família. Neste sentido, Wil Pereira chama atenção para a política nacional de valorização do salário mínimo, que havia sido uma conquista da classe trabalhadora organizada, colocada em prática entre 2011 e 2019, nos governos Lula e Dilma (PT), e retirada pelos governos ultraliberais de Temer e Bolsonaro.
O presidente da CUT-CE defende que deveria haver não apenas uma recomposição do poder de compra, mas ganho real do salário mínimo. “No Ceará, cerda de 75% da população ganha até dois salários mínimos e é essa camada da sociedade mais afetada pela carestia, que não é só dos alimentos e bebidas, mas de todas as despesas básicas”, pontua Wil Pereira.